sábado, 26 de julho de 2008

A INFLUÊNCIA DA SOCIEDADE NA SAÚDE DO INDIVÍDUO

A influência da sociedade na saúde do indivíduo
Daniel Caetano

Crise existencial é quando todas aquelas perguntas que você sabe que não têm a menor importância na sua vida se tornam definitivas e fundamentais para cada um de seus próximos passos.
Quem eu sou, pra que eu existo, existe um Deus, por que me danar pelos outros...? São todas perguntas legais e interessantes... são a fonte de milhares de horas de conversa... mas por um certo ponto de vista, são também completamente irrelevantes ao dia-a-dia de cada um.
Para este dia-a-dia, talvez algumas respostas bem simples (não necessariamente corretas) bastem: vivemos porque não estamos mortos, existimos para sobreviver, Deus existe para que não tenhamos que pensar em como isso tudo surgiu e devemos ser bons uns com os outros porque esta é uma regra social que, no limite, garante um ciclo virtuoso.
Mas porque, então, entramos em crise existencial? Talvez porque nem sempre seja um problema psicológico, talvez pelo vício de questionar e pensar, talvez por falta do que fazer...
Mas talvez ainda porque somos muito cobrados a agir "da forma correta", um "correto" exógeno a nosso próprio eu, tão difícil de definirmos. Na ânsia de entender essa "forma correta" e agir dentro destes parâmetros... temos uma necessidade desenfreada de buscar o conhecimento do sistema em que nos encontramos, para que possamos tomar atitudes "acertadas" dentro desta realidade.
E é curioso que muitas vezes fugimos completamente desta "forma correta", para não termos de nos enquadrar neste paradigma de mundo imposto, mas sem querer caimos em uma outra espécie de crise existencial, por abandonarmos o convívio social usual, quando então nosso "eu" passa a gritar pela necessidade de vivência em grupo. Nisso, muitas vezes abandonamos todo o senso de preservação apenas para nos enquadrarmos num grupo que não siga os parâmetros normais "corretos".
A crise então passa a ser encontrar justificativas para não vivermos nos padrões "normais". Como disse Renato Russo, "Era provar pra todo o mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém"...

Isso porque a vida em sociedade é praticamente uma necessidade fundamental do ser humano, uma grande e real necessidade. Alguns gostam de dizer que "ninguém é uma ilha" e, apesar de não gostar da comparação, ela expressa razoavelmente bem a natureza aparentemente social do ser humano. E uma vida em sociedade tem inegáveis méritos... é evidente em tudo que a humanidade é hoje, assim como é evidente na organização de um formigueiro ou uma colméia.
Entretanto as organizações humanas parecem ter um grau de complexidade para o qual nós mesmos não temos competência de gerir, visto que a sociedade atual está completamente desequilibrada e pressionando seus membros a um ponto quase insuportável.
Temos freqüentemente colocado a culpa da queda da qualidade de vida na alimentação, na falta de exercícios e tudo o mais. No entanto, o problema me parece algo muito mais abrangente.
Hoje vivemos de uma forma artificial, não no sentido de "feito pelo homem", mas no sentido de "não parece adequado que seja assim". Trabalhamos quase o tempo todo em que não estamos dormindo, temos que inventar formas mais rápidas de nos alimentar e a necessidade de dormir menos acaba tirando o ânimo para qualquer exercício físico.
Com isso a alimentação é ruim - desde a má mastigação até o tipo de comida que é possível ingerir em alguns poucos minutos. A falta de tempo para fazer coisas prazerosas, bem como a falta de sono, geram ansiedade que diminuem nossa produtividade (e portanto tendo que dormir ainda menos para produzir o mesmo). Além disso, nosso sono fica ruim (ninguém dorme bem ansioso) e, em muitos casos, ou passamos a comer demais num gesto compulsivo característico da ansiedade, ou deixamos de comer por completo, num gesto depressivo... em qualquer dos casos agravando ainda mais a situação.
Será que a culpa está de fato em comer demais e fazer exercício de menos, ou isso é sintoma de uma doença chamada "exagero da cobrança do indivíduo na sociedade"?
Eu fico sempre pensando: quando inventaram o regime de 8 horas de trabalho diários, não imagino que as pessoas ficavam 3 horas por dia no trânsito. O trabalho também não devia ser sentado e as pessoas não tinham que fazer 1 hora de exercício fora do trabalho como hoje. Ninguém perdia 30 minutos do tempo de almoço indo até o restaurante mais próximo. Na verdade, naquela época as pessoas sequer deviam gastar 30 minutos no banho todos os dias.
O cansaço físico das pessoas devia ser grande e o mental menor. Apesar de existir ansiedade (sempre existe) o sono do sujeito era quase garantido pelo cansaço físico. Oito horas de sono? Sim. Oito horas. O sujeito acordava às 4:30, mas ia dormir às 20:30, depois de jantar... porque não havia luz nem TV. Era o tempo de chegar em casa, fazer comida, dar um jeito na casa, conversar com a mulher e filhos e ir dormir.
Não que a vida fosse "melhor" (na forma como aprendemos a valorar as coisas), mas olhando as "horas que não se perdia" quando a jornada de trabalho de 8 horas foi criada, é possível observar que trabalhando 8 horas e dormindo 8 horas, o sujeito ainda tinha praticamente 8 horas, de fato, para fazer suas coisas. Ou algo bem perto disso.
No nosso caso, se descontarmos as 3 horas de trânsito diárias (8-3 = 5), 1 hora de exercício diário (5-1 = 4), 30 minutos do banho + 30 minutos do deslocamento do almoço (4-1 = 3)... Vemos que o tempo que temos para lazer, cuidar da casa, almoçar e jantar, ficar com os filhos, estudar para se aprimorar, etc... foi reduzido de 8 horas para 3 horas, tudo isso em pouco mais de 100 anos.
Obviamente esta é uma análise mega-grosseira, mas termos apenas 3 horas para realizar todas estas atividades é inviável. Resultado: como não podemos tirar horas de trabalho, tiramos do sono e, ao invés de melhorar o quadro, pioramos.
E nesse ponto eu ainda não entrei na questão que, com o avanço dos meios de produção, não existe mais trabalho para [(6.000.000.000 pessoas / 2 pessoas/pessoa_ativa) * 8 horas/dia] 24 bilhões de pessoas_ativas*hora/dia no mundo. Por esse motivo, existem pessoas se matando de trabalhar (8 horas *ou mais* por dia) e tendo todos os problemas que eu citei acima... enquanto outras não possuem emprego e têm outros tipos de problemas - sub-nutrição, ansiedade por não achar emprego, desespero por ver os filhos se marginalizando, etc.
Não sou sociólogo, mas acredito que o problema da saúde do ser humano atual é a própria sociedade (ou o total descontrole em que ela caiu), cujas distorções têm conseqüências horríveis na saúde de cada simples cidadão do mundo.

Até quando vamos tratar os sintomas, ao invés de tratar a doença?

sexta-feira, 25 de julho de 2008

A ilha - Uma fábula sobre o autoconhecimento



A ilha
Ricardo Kelmer 1997 - www.ricardokelmer.net

Era uma ilha que vivia no meio do oceano. Levava uma vida tranquila, sem grandes questionamentos. Conhecia outras ilhas e com elas se comunicava. Um dia, porém, uma idéia inquietou a ilha: se toda vez que a maré baixava, uma porção de terra se descobria, então até que ponto haveria terra? Até que ponto a ilha existia?

Isso lhe tirou o sono por várias noites. De repente seu conceito sobre si mesma começou a mudar. Sempre se considerara uma porção de terra boiando à superfície da água, isso era ponto pacífico, todas as outras ilhas também pensavam assim. Mas agora já não podia acreditar nisso. Uma ilha não terminava logo abaixo da linha das ondas. Não. Continuava para baixo. Talvez uma ilha na verdade fosse uma... montanha. Uma montanha com o pico fora dágua. Saber que ela “continuava” além daquilo que sempre julgou ser era algo espantoso de se pensar. Assim, dia após dia, a ilha prosseguiu em seus esforços de auto-investigação - precisava saber até onde existia. Mas à medida que sua atenção mergulhava em si mesma, as águas ficavam mais escuras. Era preciso cada vez mais concentração para não se perder. Ela prosseguiu, mais atenta, e descobriu que aquilo que existia abaixo da superfície continuava sendo ela mesma, sim, mas parecia ter algo como uma vida própria.

Cada vez mais surpresa a ilha constatou que aquela parte mais profunda de si mesma levava uma existência semi-independente, porém interagindo sempre com a superfície: influenciando e sendo influenciada por ela. A ilha então soube a razão porque se comportava dessa ou daquela maneira e muitas coisas ficaram mais claras a respeito de si mesma, de seus relacionamentos com outras ilhas e da vida de modo geral. E a cada descoberta que fazia, outras mais se anunciavam e de repente era como se o Universo se expandisse para dentro dela mesma!

Muito tempo se passou até que se convencesse, verdadeiramente, de que era mesmo uma montanha com o pico emerso. Ela estava presa a uma base e essa base era uma enorme extensão de terra que funcionava como chão. Vinham de lá todas as ilhas. E para lá voltariam todas quando os movimentos da terra, dos ventos e das águas as forçassem a isso. Mas a grande maioria das ilhas não sabia que todas elas continuavam para baixo. Por isso não entendiam as reais motivações de muito do que faziam. A parte acima da superfície era tudo que sabiam sobre si mesmas e isso era pouco. A parte submersa, a montanha, era a parte inconsciente de cada ilha, aquilo que desconheciam de si mesmas. E o fundo do mar era o inconsciente maior, único, de todas elas, o lugar de onde vinham.

Ao entender esse fato a ilha lembrou do tempo em que sua consciência de si própria se limitava àquela minúscula porção de terra à superfície. Todas as ilhas vêm do mesmo lugar - ela repetiu, intrigada com suas descobertas - porque são feitas da mesma terra... A areia e os nutrientes que as raízes de suas plantas colhem, vem tudo do mesmo chão... Todas as ilhas que existem são no fundo uma coisa só que se experimenta em várias extensões de si própria e cada extensão possui consciência de si mas esta consciência é limitada pois quase nunca desce em direção ao fundo, acomodando-se na parte mais superficial... Se cada ilha se aprofundasse em sua noção de si própria, acabaria conhecendo melhor a si mesma e, por virem todas do mesmo lugar, conheceria melhor a todas as outras ilhas.

A ilha viu que eram idéias grandes demais, confundiam a mente. Aquela auto-investigação era importante mas requeria muita atenção para não se perder durante o processo. Só assim poderia transitar com êxito entre as duas camadas de realidade, a que ficava à superfície e aquela mais escura e misteriosa que prosseguia rumo a seu próprio interior.

Enquanto tudo isso acontecia as outras ilhas observavam seu comportamento e não entendiam bem o que ela tentava lhes dizer. A ilha sentiu-se só. Viu-se então pensando do ponto de vista da terra: se elas não se conhecem e elas todas são parte de mim, então eu ainda não me conheço tão bem... Assim sendo, como poderia condená-las? Não, não poderia. Deveria entender e aceitar o ritmo natural da vida de cada uma das ilhas. Deveria agir com a mãe sábia e bondosa que incentiva todos os seus filhos mas tem de respeitar o caminho individual de cada um deles...

Foi então que, subitamente, a ilha percebeu, num intenso clarão de compreensão, que toda aquela vasta extensão de terra lá embaixo funcionava como um útero a expulsar pedaços de si mesma, forçando-os à superfície. Uma vez lá, eles se entendiam ilhas e começavam então sua aventura individual em busca de saber quem de fato eram, de onde vieram e por que existiam. Mas por que a terra fazia isso? Talvez para ela própria aprender com a experiência individual de cada ilha. Ao morrer, uma ilha levava à terra sua própria experiência que serviria para formar as futuras ilhas. Assim, toda ilha continha em si, sem se dar conta, a mesmíssima areia das que a antecederam. Através da vida de cada uma das ilhas, a terra como um todo estava sempre aprendendo cada vez mais sobre si mesma...

Se isso era verdade, então cada ilha possuía uma enorme responsabilidade: conhecer-se a fundo, viver a vida da melhor forma possível e aprender o máximo que pudesse pois tudo o que vivesse formaria o material do qual seriam feitas as ilhas que a sucederiam.

A vida é mesmo uma tremenda aventura! - pensou a ilha enquanto se divertia com os olhares estranhos que as outras lhe lançavam. Uma aventura de cada ilha. Mas também da terra inteira.

Ricardo Kelmer é escritor, letrista e roteirista e mora em São Paulo, Terra, 3a. Pedra do Sol

quinta-feira, 24 de julho de 2008

ME PERCO NA LEITURA


O PODER DO MITO
http://www.magnifica.com.br/ebook/o_poder_do_mito.pdf

Tendências do comportamento gerencial da mulher empreendedora
http://www.abrad.org.br/enanpad/1999/dwn/enanpad1999-org-09.pdf



quarta-feira, 23 de julho de 2008

DIÁLOGOS IMPERTINENTES – PUC SÃO PAULO