quarta-feira, 30 de julho de 2008

CAMINHOS PARA REALIZAÇÃO PESSOAL


Caminhos para a realização pessoal
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José Manuel Moran
Texto do livro Aprendendo a viver. 3ª ed.
São Paulo,Paulinas, 2002, p.70-74
jmmoran@usp.br


Todos os caminhos são importantes se nos ajudam a crescer como pessoas a compreender melhor, a realizar-nos mais, a vivenciar formas mais ricas de comunicação e amor.
O melhor que podemos fazer pela sociedade, pelo mundo, pela família e por nós mesmos é sermos pessoas mais evoluídas, mais maduras, mais humanas.
Podemos conhecer mais e experimentar novas formas de viver, pela ação e pela reflexão, pela intensa comunicação com pessoas e pelo isolamento, pela adesão a uma religião ou a uma filosofia humanista.
Ninguém tem o monopólio de como chegar ao conhecimento ou as chaves da realização pessoal.
• Uns podem chegar à realização pelo sofrimento - quando sabem enfrentá-lo.
• Outros, pelo contato com pessoas interessantes, por leituras estimulantes ou pelo estudo.
• Uns, por formas diferentes de vivências religiosas: meditam, fazem ioga, se isolam, rezam.
• Outros organizam eventos, promovem ações concretas, visíveis, coordenam ou participam de vários grupos...
Qualquer situação ou interação pode ajudar-nos a evoluir, dependendo de como a encaramos. Tudo pode ser-nos útil para o contínuo crescimento, se conseguimos incorporá-lo à nossa vida como aprendizado, como incentivo, como um degrau a mais; se sabemos superar o que tenta prender-nos, o que tenta desvalorizar-nos, humilhar-nos, derrotar-nos.
Todos os caminhos são bons, se nos ajudam a evoluir. Há, porém, caminhos destrutivos: a fuga, a alienação, a humilhação, a emoção contínua negativa, a comunicação inautêntica.
Cada um de nós irá descobrindo que pode combinar e equilibrar ação e reflexão, leituras e práticas, isolamento e interação, humanismo e religiosidade, a partir das suas características pessoais, da sua própria trajetória do passado até o presente, do seu universo mental e emocional específico.
Daremos saltos de qualidade no conhecimento se estivermos atentos aos múltiplos signos da vida. A vida é como um lento desfolhar de novos sentidos, de novos significados: cada camada descoberta nos leva a novas perspectivas, ao aprofundamento de novas dimensões.
Viver nesta atitude de desvendamento revelador é uma das experiências mais gratificantes que o ser humano pode sentir.
Encontraremos os melhores caminhos, se sempre estivermos serenamente atentos para aprender, abertos para a novidade de viver cada dia da melhor forma que nos for possível, em cada momento, agora; atentos para o incentivo, para o apoio pessoal e interpessoal, para não deixar-nos empolgar demais com os sucessos nem abater-nos com os problemas e eventuais "fracassos".
Encontraremos os melhores caminhos, se soubermos aprender com cada circunstância que se nos apresente e se estivermos atentos a tantas formas bonitas de aprender a crescer. Vamos fazer a nossa parte e deixar fluir, dar margem ao imponderável. Estar abertos para o novo. Aceitar as surpresas da vida, o que não esperávamos, tanto o "positivo" como o "negativo".
Monitorar nossas vidas com carinho, afeto, atenção. Aceitar-nos plenamente, continuamente, incondicionalmente. Aceitar o que fomos, o que somos, o que seremos.
Rever o nosso passado como etapas de grande aprendizagem, de evolução. Aceitá-lo como nosso, como algo que está em nós. Estar atentos aos sinais de impaciência, de crítica, de desânimo, de depressão.
Não obrigar-nos a carregar pesos insuportáveis. Assumir os descontroles eventuais, a perda de sentido, as indefinições. Apoiar-nos sempre, esperar sempre, confiar sempre.
Incentivar-nos, dialogar permanentemente conosco, buscar apoio nas dimensões misteriosas do nosso universo, em tantas forças que interagem com a gente, para poder perceber mais e mais a complexidade que nos rodeia.
Acreditar sempre em nós mesmos, em nosso fluir como pessoas, em que há um sentido maior para o nosso dia a dia, em que tudo contribui para a nossa aprendizagem e para o nosso aperfeiçoamento.
Viver no presente, atentos ao futuro, mas sempre valorizando o que está acontecendo no aqui e agora, que nos acompanha e que podemos transcender, mas nunca negar.
Procurar viver com simplicidade, menos apegados aos bens e ao poder. Ir na contramão do consumismo, da posse, da ostentação.
Ir na contramão da tendência a possuir, ter, acumular, juntar, multiplicar bens, de ter que lucrar sempre, o mais possível, obsessivamente; da tendência a ostentar, a mostrar status, luxo, poder, alto padrão de vida; da tendência a consumir, a ter que comprar, de necessitar sempre de roupas, de novidades, de modas.
Ter o necessário e procurar necessitar cada vez menos coisas. Ter sem possuir, sem apegar-nos, sem deixar-nos dominar pelos objetos, pessoas, pelo desejo do que não é nosso.
Comunicar-nos da forma mais autêntica e aberta possível, colaborando para que haja maior entendimento e confiança. Manter um diálogo permanente com tudo que nos rodeia.
Contribuir para que haja um clima mais harmônico ao nosso lado, para sermos elementos de união e não de discórdia.
Pedir desculpas a nós mesmos e desculpar-nos quando erramos, quando nos perdemos, quando cometemos injustiças, críticas exageradas, julgamentos apressados.
O importante é estar vivenciando continuamente processos de liberdade e de realização, em todas as dimensões, na medida em que formos capazes, em cada momento das nossas vidas. Viver no ritmo possível, no tempo possível, nas formas possíveis.
Mudar os aspectos da nossa vida até onde formos capazes, para encontrar nossa identidade, nosso estilo, nossa forma de comunicação e de gestão.
Assim iremos tornando-nos pessoas mais livres, marcantes e realizadas.

APRENDENDO A VIVER..............


APRENDENDO A VIVER
José Manuel Moran
Caminhos para a realização plena.
São Paulo: Paulinas, 3º ed, 2002


Cada um de nós, com o passar dos anos, revela, pelas suas ações e palavras, o que aprendeu realmente e em que tipo de pessoa vai se transformando: mais ou menos aberta, afetiva e interessante.


Muitos não acreditam em si mesmos, no seu valor. Fingem o que não são, representam papéis, dependem da aprovação dos outros.

Aprendemos a viver melhor no diálogo permanente, coerente - às vezes tenso e contraditório, mas confiante, humilde e afetivo - com o que percebemos, sentimos e compreendemos e com tudo o que nos rodeia: pessoas, grupos, ambientes presenciais e virtuais.

Avançamos mais se focamos o aqui e agora, comunicando-nos de forma aberta, acolhedora, no ritmo possível, sem cobranças negativas, nem expectativas irreais.

Aprendemos se também encontramos algo que nos motiva profundamente, que nos estimula intimamente, que dá sentido a nossos pensamentos e ações.

Numa sociedade dominada pelo valor das aparências, do consumismo e do marketing, nosso maior desafio é aceitar o que somos, o que construímos e continuar mantendo a esperança na nossa capacidade de aprender e de viver com coerência entre o que pensamos e agimos, transformando nossa vida em um processo cada vez mais rico de conhecimento, de afeto e de realizações.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

O OLHAR


O OLHAR
O olhar é muito mais do que função fisiológica, É uma linguagem forte. É um universo carregado de sentido. É condensação do mistério do homem. Relata o destino de muita gente. Provoca alterações decisivas na vida.
Mesmo o olhar indiferente suscita reações contraditórias. O olhar é, em grande parte, a morada do homem. O universo do olhar é vasto e misterioso. Olhar habitação que acolhe o próximo que passava desabrigado. Olhar rejeição que distancia o gesto de diálogo. Olhar atração que cativa e envolve o semelhante. Olhar envenenado que espalha ameaça.
Olhar inocente que semeia simplicidade pela face da terra. Olhar malicioso que planta a semente da maldade no corpo dos homens. Olhar indiscreto que revela as intimidades humanas. Olhar sigiloso que arquiva quadros dolorosos e cenas humilhantes. Olhar atento que não desperdiça o menor sinal de boa vontade.
Olhar displicente que esquece a presença do outro. Olhar compreensivo que apaga os rastos dos erros. Olhar intolerante que espreita o deslize da fraqueza. Olhar generoso de Cristo que abraça toda Jerusalém. Olhar mesquinho do fariseu que cata e filtra migalhas.
Olhar pastoral de Cristo que recupera Pedro hesitante. Olhar encolerizado que fulmina o parceiro. Olhar apelo que suplica compaixão e ajuda. Olhar intransigência que cobra a última gota de sofrimento. 'Olhar amor que unifica os que se querem. Olhar ódio que esfaqueia os que se detestam.
Olhar história que vive a evolução das construções, o fluxo das gerações, o movimento dos estilos. Olhar documentação que registra as clareiras dos horizontes, a floração dos campos, o sangue dos acidentes, o desesperado precipitando-se do edifício, o último aceno de quem está se afogando.
Olhar de ansiedade que fica na estrada acompanhando aquele que parte. Olhar de esperança que não sai da estrada, aguardando a volta do filho pródigo. Olhar do recém-nascido que anuncia a chegada de uma existência. Olhar do agonizante que procura perpetuar sua presença entre os que ficam. Olhar evangélico que anuncia o reino de Deus. Olhar céptico que recusa os sinais da esperança.
Olhar consciente que ativa a reflexão humana. Olhar coisificado que manipula os homens como objetos. Olhar libertador que retira o irmão do cativeiro moral. Olhar argentário que industrializa até os sentimentos humanos. Olhar decidido que busca a realização pessoal.
Olhar evasivo que evita o encontro com a realidade. Olhar pacifico que reconcilia as vidas separadas. Olhar reticente que fragmenta a confiança. Olhar de perdão que põe de pé a quem estava caído.
Olhar de rancor que jura vingança impiedosa. Olhar feroz do perseguidor, do tirano, do opressor. Olhar encolhido, amedrontado do perseguido. Mas, que grandeza nesse olhar acuado! A última resistência do homem esmagado se refugia no olhar oprimido.
Diz Levinas que o arbitrário enxerga a sua vergonha nos olhos de sua vítima. Por isso, o agressor procura destruir, eliminar o oprimido. Pois não suporta o olhar que o acusa, que o julga, que o condena.
Mas, o Olhar que a arbitrariedade apaga na vida do oprimido, reacende-se na consciência do tirano como verme roedor. O olhar é também linguagem de Deus. Copiado por JCSJr. Do livro "ESTRADEIRO" de Juvenal Arduini - Edições Paulinas

domingo, 27 de julho de 2008

PEDAGOGIA DO AMOR



A pedagogia do Amor
Roberto Crema

Psicólogo e antropólogo do Colégio Internacional dos Terapeutas, analista transacional didata, criador do enfoque da Síntese Transacional. Mentor da Formação Holística de Base da UNIPAZ. Diretor da Holos Brasil. Educador e autor de vários livros, entre os quais "Análise Transacional Centrada na Pessoa", "Introdução à visão holística" e "Saúde e plenitude". Vice -reitor da UNIPAZ.
Religar conhecimento ao amor é o mais instigante desafio do momento. É esta a metavirtude que precisa orientar nossa sofisticada tecnociência. Como afirmou um sábio, o amor é a tecnologia mais sofisticada de todos os universos!... Sem amor não é possível reinventar e reencantar nenhum mundo, nenhuma sala de aula... Nós precisamos da pedagogia do amor, porque esta é a primeira e a derradeira lição de uma escola transdisciplinar holística da existência. Somente no dia em que aprendermos a amar total e incondicionalmente é que receberemos um certificado de humanidade plena. Esta é a Utopia Humana e estamos aqui para fazê-la florescer...

Não é difícil constatar que o desencantamento do mundo se deu através da desconexão com esta fonte de Vida, sobre a qual Teilhard de Chardin afirmava: "Quando os seres humanos domarem as ondas, os ventos, as tempestades, os furacões, quem sabe não dominarão, também, as forças do amor? Então, pela segunda vez na história da humanidade, teremos inventado o fogo!"

Aprender a conhecer e a fazer de forma integrada, através da experiência viva e com discernimento continua sendo uma arte a ser devidamente aplicada e aperfeiçoada. Para tal, necessitamos de uma escola do Olhar, pois a visão é a véspera do conhecimento. Abrir o olhar para si, para o outro, para o Universo e o Totalmente Outro, eis uma lição fundamental. Um olhar fluídico, que não fica paralisado num único alvo, capaz de acompanhar a dança do agora. Mudar o mundo é mudar o modo de olhar... Necessitamos, também, de uma escola da Escuta. Escutar antecede compreender. Precisamos transcender esta crise absurda, esta surdez diante dos alaridos e canções da realidade.

Aos 15 anos, orientei meu coração para aprender.
Aos 30, plantei meus pés firmemente no chão.
Aos 40, não mais sofria de perplexidade.
Aos 50, eu sabia quais eram os preceitos do Céu.
Aos 60, eu os ouvia com os ouvidos dóceis.
Aos 70, eu podia seguir as indicações do meu próprio coração, porque o que eu desejava não mais excedia as fronteiras da Justiça.

Quando orientamos o coração para aprender? Não apenas para conhecer o mundo exterior e para, nele, atuar. Sobretudo para aprender a estar no mundo, navegar o encontro e florescer como seres humanos. Para tomar consciência do fio de ligação que conecta todos os nossos passos e todos os eventos no qual habitamos. Como afirma o estadista, Václav Havel, a educação, hoje, é a capacidade de perceber as conexões ocultas entre os fenômenos.

Quem é terapeuta sabe que cada sintoma é um texto sagrado, que precisa ser escutado e interpretado, em seus múltiplos significados. Como afirma a sabedoria dos velhos rabinos, cada frase bíblica é suscetível de 72 interpretações! Pois são 72 os nomes que damos àquilo que não tem nome, segundo a Cabala. Esta é uma sábia prevenção contra o perigo dos catecismos estreitos e dos fundamentalismos fanáticos, cuja tragédia estamos presenciando. Como afirmou um sábio, fanático é uma pessoa que não muda de idéia e nem de assunto!

Roberto Crema