domingo, 3 de agosto de 2008

APRENDENDO A REALIZAR-NOS


Aprendendo a realizar-nos
Da negação à integração


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José Manuel Moran

Texto complementar ao livro Aprendendo a viver. 3ª ed. São Paulo,Paulinas, 2002


Desde pequenos descobrimos o sofrimento, a dor, a inveja, a raiva dentro e fora de nós.

Costumamos, num primeiro momento, tentar negar o que sentimos. Ocultar o lado escuro, complicado da nossa personalidade, da nossa vida; os desejos proibidos, os sentimentos de vingança, raiva, ódio... mesmo contra pessoas queridas.

Em outros momentos, buscamos "bodes expiatórios" - os culpados pelos nossos "males". Pensamos que estão fora de nós, que os outros nos incomodam, nos perseguem, nos fazem sofrer. Achamos que nossos problemas são causados pelos demais. Muitos nos incomodam.

Também costumamos mergulhar no imaginário, nas estórias, na fantasia, nos esportes de massas, nos filmes, onde "sofremos e nos vingamos", torcemos e nos projetamos. Somos heróis ou vilões em horários marcados. Nos projetamos nos triunfos dos outros e nos identificamos com os tropeços dos que se parecem conosco. Preferimos sofrer para depois triunfar (ou participar do triunfo dos outros). Também fazemos comparações com colegas. Admiramos a alguns (que colocamos no pedestal, como modelos) e desprezamos ou rejeitamos outros (eles mexem, nos incomodam).

Muitos permanecem nesse processo de culpar os demais, de mergulhar cada vez mais no imaginário e não modificam substancialmente as suas vidas. Estão sempre fora do seu eixo, voltados para fora. Suas vidas são seqüências de buscas de pretextos, de culpados, de fugas para o imaginário, de dependências de modelos que admiram, invejam ou se submetem ("preciso de você", "sem você não sei viver...")

Outros, em algum momentos de suas vidas, em etapas de crise ou grave insatisfação, começam a aceitar o que vão percebendo, a aceitar-se como vão se vendo, o que vão sentindo, as contradições que aparecem. Observam o que acontece, mas tentam não culpar automaticamente os demais, nem também culpar a si mesmos. Aprendem a gostar de si, a olhar menos para modelos externos e a "fantasiar" menos.

Vão aprendendo a colocar-se metas menos insuportáveis, a viver mais o dia-a-dia, a gostar das pequenas coisas, a dialogar com os outros observando também suas qualidades e não só seus defeitos.

Aos poucos vão aprendendo a acalmar-se, a dar-se valor, a perceber e não negar, a tentar ir modificando-se no que lhes for possível em cada momento. Vão aprendendo a integrar tudo: o passado e o presente, o trabalho e o lazer, a realidade e a ficção. Começam a olhar os outros com novas perspectivas, sentem mais "compreensão" e menos rigidez nas suas idéias, avaliações e atitudes.

Com o passar do tempo, persistindo nessa atitude de aceitação profunda e mudança possível, vão se modificando muito mais do que imaginavam, encontrando uma paz interior autêntica. Vão tendo força para tomar decisões no campo afetivo, profissional. Abrem-se a novos projetos, possibilidades, desafios. Estão caminhando num processo de integração cada vez mais pleno do sensorial, emocional, do intelectual, ético e transcendental. Vão sentindo-se mais realizados e aprendem com cada situação que se lhes apresenta.

Muita gente lê muito, estuda anos, mas permanece na seqüência fechada de culpa-fuga-projeção, encontrando só momentos pontuais de prazer, contrabalançados com intensa ansiedade e insatisfação.

Algumas pessoas rompem o círculo das dependências, enfrentam as mudanças a partir de uma nova atitude de aceitação profunda e atenção às suas possibilidades de mudança. Estas pessoas estão realmente aprendendo a viver.

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